sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Já se desconfiava da existência de um processo legislativo na comissão parlamentar de combate à corrupção que vinha compondo um centro de mesa  com napron, jarra de loiça, flores de plástico e contundente possibilidade de criação de uma nova figura no direito penal: o de "arrependido"; estatuto esse que pode vir a ser aplicado também nos crimes de corrupção. Porém, nos tempos que correm, é de prever que esta figura não seja só uma abstracção, como também uma personagem desadequada perante os meandros da interpretação jurídica. Assim sendo, propõe-se aqui que seja feita desde já uma actualização a essa figura, de forma a criar o estatuto do “arrependido suplicante”, que não só acorda um dia cheio de borbulhas e disposto a confessar a prática de um crime pelo qual nunca viria a ser condenado, para posteriormente poder incriminar o outro, igualmente cheio de borbulhas, pela prática de um crime pelo qual nunca, alguém de jeito, virá a ser condenado, como também, e esta é a inovação proposta, estará capaz de suplicar em sessão pública, a sua devida e, se excelências aprouverem, bem merecida condenação. O objectivo é o de obstar às absolvições musculadas e arbitrárias com nuvens de poeira radioactiva e razoável zaragata.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Canalhas consagrados?


Não é novo, nem original, nem particularmente sofisticado. É no entanto um enorme potencial de transferência lateral. Eu, o ressabiado autor deste blogue, sinto-me neste caso dignamente representado se bem que, neste preciso momento, não me ocorre onde terei deixado a forquilha.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Come chocolates, pequena;

Para além da incompetência técnica, irresponsabilidade, falta de rigor e de gosto pelo feito, é preciso reconhecer uma forte predisposição para a vigarice, uma irrecusável atracção para o lodo, uma paixão pelo torpe e repugnante de que o homem é capaz. Sofrem talvez de patologias agudas os que destinam esta terra aos seus apetites de medíocres impudentes, filhos arrivistas da miséria, que perseguem o ouro da fuga. Talvez seja por isso que cá estamos, voluntariosamente entregues ao tecer da malha que sustenta o insustentável. Para o futuro continuaremos, até que possível, a gerar leitões vorazes - um dia mais tarde serão úteis para conduzir os homens. Perceba-se que para um  porco esfomeado a única ética possível é a da saciedade; para um porco voraz, a da impossibilidade desta. Amanhã, os mais insalubres estarão prontos para a eleição, por um povo que se alimenta da sua própria chaga e que feitas as contas, convém admirar, nada lhe resta senão o seu bovino devir. Bem vistas as coisas, são os homens que alimentam os porcos e essa é a sua insanável responsabilidade - pelo mundo que deixam às criancinhas.