quarta-feira, 27 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Acerca da moderação de comentários

"Tu muito gostas dos textos sem décadence... para gáudio de vocês cépticos, grupo no qual insiro 3% do meu ser em período de bonança, 33% em período de defeso e 333% em período de franca invernia... para vosso gáudio, aqui o estaminé pegaria fogo em três tempos."
Por Kaka

quarta-feira, 20 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Será que vale a pena, quando a crise não é pequena?

Venho aqui hoje admitir que até eu já estou em crise. Sexualmente falando, era já coisa conhecida, mas a coisa sucede de tal forma que neste momento me encontro debaixo da cama a escrever este texto.
A crise ultrapassou todas as fronteiras da ilusão e há já quem comece a sentir saudades da ameaça global do terrorismo. A crise é transversal e omnívora. Assustadora e imaginativamente fértil. Não poupa incautos nem velhinhas desconsoladas. Não faz prisioneiros mas sim reféns. A crise é uma palavra e como todas as palavras, não existe para além do seu próprio estalido. A crise é uma categoria marada que alguém arranjou para sintetizar a capacidade e competência que o animal homem tem para oprimir e violentar a sua própria humanidade. A crise é uma fábula negra inventada por um avozinho qualquer, para educar o menino Homem.
A crise está desde sempre nas ruas porque é lá que faz falta e para quem atenta são já poucas as frases que se ouvem a céu aberto que não conjuguem a palavra. As pessoas já se cumprimentam com “Eh pá, isto hoje é que tá cá uma Crise do caraças…” e as tertúlias literárias já introduziram a discussão sobre a temática “a importância da Crise" na obra deste ou daquele autor. Os oráculos televisivos esticam, dobram e desdobram, decoram a Crise; os estudantes escrevem teses de mestrado sobre a Crise e até os pais dos miúdos já os ameaçam, face à impossibilidade de negociar a ingestão completa da sopa, com a Dona Crise, que os levará com ela para os trópicos escaldantes do neoliberalismo económico. Para mais, prevê-se a qualquer momento o surgimento de uma nova corrente filosófica designada por Crisícismo, corrente essa impulsionada por José Calígula, filósofo e amador de apneia do sono, no seu livro, “A tentação de existir… apesar da Crise”.
Assim sendo, o que hoje aqui antecipo é uma praia lusitana iluminada por uma ideia de futuro. Um futuro capaz de conjugar a palavra Crise com salada de alface. Um futuro que é já ali, nos fundilhos da elevação humana, e que eu aqui revelo, levantando infamemente a pontinha do véu.
Amanhã:
O governo do país passará a ser exercido por um painel de acompanhamento da Crise, um comité de avaliação da Crise, um observatório para a Crise e pela Alta Autoridade para a Concorrência no Seio da Crise, presidida por um qualquer senhor que tenha um tom de voz engraçado, um critério de análise também engraçado e conclusões verdadeiramente engraçadas.
As criancinhas irão nascer com a Crise enrolada na boca e mais tarde só conseguirão adormecer com a luz acesa por causa da Crise Papona.
A Crise, mais dia, menos dia, à força de tanto se cantar à desgarrada por toda a substância lusitana, tornar-se-á num género musical, substituindo inclusivamente o fado, e o mote será - “Ai que saudades eu tenho da Crise do antigamente”.
As pessoas e a formiga de asa começarão a acasalar segundo os ciclos da Crise e as esposas serão devidamente recicladas até que capazes de um - “Hoje não querido, que estou com uma Crise que nem posso”.
O Manuel de Oliveira irá adaptar o best-seller “Crise para Totós” retratando com mestria os tempos mortos da Crise.
Nos cafés as pessoas pedirão - “Quero uma Crise curta se faz favor”.
A Criseologia será a grande tendência científica ao nível das ciências sociais, com criseologos capazes de, pelo comentário esclarecido, enfatizar os matizes da Crise assim como de um ou outro reflexo no alumínio da marquise.
As esfregonas terão fibras capazes de arrancar as partículas contaminantes da Crise.
Serão usadas pela indústria farmacêutica as mais avançadas tecnologias para extrair da Crise substâncias activas para produtos dietéticos. Mais tarde surgirá a polémica quando designados círculos da finança tentarem introduzir sub-repticiamente a Crise genérica.
O termo popular “Não há Crise” será substituído por “Não há agravamento da Crise”.
O termo escolástico “Há Crise de valores” será substituído por “Valores?”.
Os desenhos das crianças em idade pré primária, serão compostos por um sol, umas ou duas nuvens, uma árvore, uma menina de saia de xadrez com uma flor gigante na mão e uma Crise a deitar fumo pela chaminé.
Os jornais de referência lançarão edições de coleccionador da Crise, e o Ministério da Segurança Social uma edição comemorativa da Crise - coisa de luxo lavrada a letras de oiro e completa com um álbum fotográfico com todos os grandes empreendedores históricos da crise.
Haverá excursões organizadas para visitar e provar as especialidades das regiões mais afectadas pela Crise.
As agências de viagens terão à venda pacotes para visitar Crises exóticas.
O aquecimento global será oficialmente indexado aos movimentos da Crise.
O abrandamento da Crise será acompanhado pela descida dos “spreads”.
Os campos de refugiados, lotados por vítimas da Crise, passarão a chamar-se parques de campismo sitos na Costa da Caparica.
E a todos os portugueses será dada a hipótese de pagar a Crise em dez vezes sem juros, nesta ou numa próxima vida e, considerando até os casos em que o coito vaginal seja bem sucedido, a todos os portugueses que aí venham, que se atrevam a isso, será também possível, somente possível diria, participar nesta grande empresa que é a alma lusitana com bolinhas coloridas de Crise lá dentro.


- “Tem horas que me diga?”
- “Tenho sim. É um quarto para a crise”