quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Volto já então

Diz ali que o ex-presidente do BPP, o banco que protagonizou uma das mais aclamadas fraudes financeiras postas a descoberto no inicio do ano de 2009, está de volta. Conta que está a “trabalhar na prospecção e montagem de operações de fusão e aquisição fora de Portugal”, coisas concretas e todas acima dos 50 milhões de euros. É bom ter gente conhecida de volta, ainda capaz de tratar o milhão por tu, e além do mais, gente rectilínea. Repare-se por exemplo, no título do livro que publicou sob o signo da celeuma instalada na banca e nos mercados financeiros e com o BPP prestes a ser intervencionado por acção pública. "Testemunho de um Banqueiro: a história de quem venceu nos mercados" foi com certeza um livro que em boa altura assumia o futuro com a coragem e a confiança de um eleito, e que por certo homenageava já a ventura de quem nasceu sujeito para vencer no mundo da finança, e da finíssima também. E esta rectidão é tanto mais verdade como o banco privado é o paradigma de quem venceu nos mercados até porque também a miragem de quem perdeu. Como o ex-presidente do BPP percebeu, prevê-se que desde tenra idade, o conceito de vencer está para além da alma dos espoliados. O destino de quem está fadado para vencer - também desde tenra idade - não conhece portas ou muros; está inclusivamente para além da mania capitalista da propriedade. É maior que qualquer garantia de retorno, do que qualquer direito abstracto - vencer é conquistar. É desmatar impiedosamente as florestas de recursos com vista a um bem maior e recolher  as comissões num louvor ao Senhor do Cúmulo. Dos derrotados ficará apenas o andrajo e a lamuria, e já agora, a falta de chá perante a própria derrota.
Para quem ainda esfrega os olhos e se espreguiça, o capitalismo é agora o do excesso e do estoiro, o liberalismo económico é a esta distância, um parente snob do socialismo que agoniza de tão simpático que quis parecer. Mais à frente o super-homem é já um fatinho de lycra, vazio de sentido. Avancemos então com a desorçamentação do homem novo. Viva o homem velho! Façamos dos amanheceres de amanhã a glória à avidez do Cumulativismo, à rapina e aos eleitos entre os seleccionados, que a evolução por eles anseia.
Agora o dito está de volta e ameaça-nos com nova publicação de um livro, desta feita sobre a crise financeira de 2008; e bem se espera que nos diga o quanto nos avisou, na altura - as caramelices do estado, as fífias da supervisão, a substância desprezível dos reguladores; tudo se oferece à valsa precisa da pena deste oráculo da finança e da fineza também, que diz ter conhecido bem os tempos difíceis e que, com a sua douta natureza e vontade de ganhar, estará capaz de nos preparar para, assim lhe seja dado o lapso necessário, não um amanhã que canta, nem dois, mas alguma coisa que encanta desde que não chegue o amanhã.

“…montagem de operações de fusão e aquisição fora de Portugal”. Essa agora... já me ponho com ideias. Por exemplo o Haiti parece-me abrir uma janela de oportunidade para operar muito interessante: um mercado capaz de gerar a comiseração dos civilizados, todo ele feito de um balcão enorme de calamidade e indigência; um fantasma com corpo de favela assombrando a má consciência; uma multidão arrebatada pelo desejo, do mais puro, da carne, da fome, da sede. O potencial da imagem,  da valorização politica dos donos das mãos... amigas, cheias. Imagine-se o muito rim que por ali anda,  a muita criança desgraçada,  o preço imbatível de tudo o que for radicalmente desumano negociar; bem vistas as coisas, há todo um potencial de vitória lá fora.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Caçador à Coelho

Não tanto o coelho, a cartola, a maravilha e a Alice. O que hoje importa é que tudo isto, disse ele, mais não passe de uma manobra, urdida e sabuja, para que não se encontrem os culpados. Com devido segredo solte-se a lotaria e convoquem-se os arguidos que nem sequer sabem - e ele é corpo estupefacto com tudo isto que agora lhe calha - para que possam berrar por justiça; serão então testemunhas desta e aventureiros da pudicícia. Apurem-se os factos para que se agite consequentemente o chicote punitivo, mas por amor de deus, é ele quem o clama, encontrem-se os culpados que se ocultam para lá do que se indicia.
Não tanto o país, a cartola, a maravilha e a Alice. O coelho num pulo entrou para dentro do espelho.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Há Natal por aí...

"O Natal é uma noite e um resto do dia seguinte em que lá tento arranjar uma prenda que ocupe o serão cá à santíssima trindade: pai, mãe e filha. Lá arranjei desta vez um vídeo da Mariza mas como não agradou a pai ainda consegui sair-me razoavelmente com uns cds empoeirados da Edith Piaf que estavam lá por casa da mãe. sabe-se lá por que portas travessas, a música amamentou os três ao mesmo tempo. Cada qual terá sacado do nutriente mais em falta. Já quanto ao bacalhau, era tanta a gula que tive de ficar a chás o resto do serão."
Por Kaka